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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Seu lugar:

Não importa quantas vezes aconteça, e nem quem seja. Sempre volta a você. É sempre você. Sempre sua causa, sua culpa. E não interessa quem machuque ou como machuque... a dor me lembra de você. Em algum momento a ferida ganha sua feição... É como uma maldição: "Você vai me levar pra sempre na sua vida" - eu te ouço tacando, como se fosse agora, na minha cara. 

Mas já faz muito tempo... muito tempo mesmo. E eu me espanto em ver como algo de você ainda resta. E mais ainda: me espanto em sentir que quero que continue restando. É minha maldição. É minha salvação. É luz e trevas... você sempre foi o eco na minha força. O buraco negro que sugou  e neutralizou tudo que eu quis te oferecer - Amor, raiva, ódio, carinho, paixão, emoção, razão. 

Não importa os cortes, as feridas, as cicatrizes que me fazem... Você me desmembrou de tal maneira que me anestesiou pro que viesse. E tão desmontado fiquei que tive que me refazer, remontar, me recriar. Dali saiu um outro homem, um outro ser, que por certo tempo não gostava de ser eu mas que foi se adaptando. E se novamente me corto, a sua lembrança é tão mais funda - nos ossos - que aos poucos dissipa a dor... Você me tornou mais forte. Me fez quase insensível... só aí falhou. Falhou porque naquele dia chovia e aquelas gotas me lavavam enquanto você me marcava. Turvaram, dissolveram parte do seu veneno. Amei ainda mais dias de chuva por causa daquele dia...

E te quis o pior por muito tempo. E só a você desejei isso, a ninguém mais. O perdão, entretanto, também veio com o tempo. Veio quando vi, de longe, que sofremos as mesmas mazelas, as mesmas frustrações na vida. Aí senti que éramos enfim parceiros. E foi o último contato, mesmo estando nós tão perto um do outro ainda hoje. E vai continuar assim: nossa natureza nos leva à destruição mútua. Sabemos disso. Mantemos a distância segura.

Ainda assim, depois de tantos anos, é sempre você que volta. O buraco negro que agora suga a dor de outras feridas. É a garantia de que nada, ninguém, toma o seu lugar. E eu amo e odeio. xingo e agradeço, por um instante, você. Sempre. 


J2ML