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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pista de Dança:

A moreninha me disse que dançava.

E eu, a essa altura da conversa, já dançava faz um tempo, errando meus passos na dança que era a minha fascinação por ela.
Dias antes desta conversa, eu reclamava comigo mesmo do silencio em que havia se tornado minha vida amorosa.
Desde a minha ultima grande paixão - que havia sido como um carnaval seguido de feriado prolongado na Bahia, com resultados catastroficos para a cidade - eu não sentia algo como o que senti com aquela moreninha.
Ultimamente só passaram bailes funk pela minha vida: duravam pouco e balançavam tudo.
Ou como Raves: era tão intenso, tão vibrante, tão constante, que acabavam de repente, e eram como se nunca tivesse existido.
Em suma, não haviam mais festas em minha vida. Eu tinha fechado o salão para balanço emocional. E não andava interessado em abri-lo novamente tão cedo.
Na verdade, fazia um tempo que eu espereva reabri-lo. Mas eu estava à espera de uma boa dança, uma festa inedita, menos barulhenta, para esta reinauguração.

E então a moreninha surgiu e me disse que dançava.

E eu vislumbrava os paços de dança cada vez que olhava naqueles olhos cor de café, cor do taco da pista de dança, cor daquela moreninha.
A essa altura da dança, eu percebi que a minha pista já havia sido invadida. A musica tocava, o compasso ia e eu, perdido, desorientado, tentava acertar algum passo no meio de toda aquela fascinação que me envolvia. Mas não conseguia.
Corpo duro que sempre fui, desengonçado, só conseguia marcar o ritmo com os pés com precisão. Todo o resto me era arruinado pela minha eterna falta de habilidade social-coordenação motora.
Pra nossa sorte - porque a moreninha certamente seria atropelada pela minha inabilidade - eu dançava sozinho. E apos um breve tempo, percebi que meus passos errados naquela dança não me importavam: eu dançava à minha maneira, e me soltava, e gostava.

E a moreninha também dançava.

E eu dançava em volta dela. Ainda danço em volta dela, perdido que fiquei no olhar que ela brevemente lançou para me seduzir, e que depois desviou.
Mas meus passos erraticos ora me aproximam, ora me afastam dela.
E entre um passo e outro, vejo se dá pra manter minha pista aberta do jeito que está, ou se ainda terei que fecha-la novamente, para algumas reformas ainda necessarias...

Eu e a moreninha que disse que dançava.

Enquanto nada é certo, e meus passos seguem incertos, dançamos.
Não os mesmos passos, nem a mesma dança.
Mas, pelo menos, a mesma musica.
E seja ela qual for, nenhuma musica toca para sempre...

J2ML

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Casais (3)

Era uma cena interessante, mas muito sutil pra ser percebida.
Era um casal se despedindo. O rapaz ia embora, enquanto a moça ficava na plataforma.
Uma despedida meiga, silenciosa, os dois trocando sinais na distancia. Um dentro do veiculo, o outro do lado de fora aguardando a partida que aumentaria aquela distancia entre os dois.
Nisso as portas se fecham e o veiculo parte. O casal se despede uma ultima vez conforme a distancia e a saudade aumentam.

A cena interessante vem depois disso.
O rapaz, meio emocionado, resolve se sentar após não poder mais ver sua amada. Senta-se de um lado do veiculo, segura as lagrimas e se recompõe aos poucos. Os outros passageiros perceberam a cena, mas não mais se importaram e esqueceram-na durante o restante da viagem.

Mas não a menina que se sentou do outro lado do corredor, paralela ao rapaz. Ela acompanhou toda a cena da despedida, e após ela ainda ficou a observar o rapaz por um tempo, discretamente.
Ela viu a cena toda e deu pra perceber o que ela sentiu: Após observar a despedida, o casal, a reação do rapaz, a menina adquiriu uma expressão triste. E abria o celular, observava as ultimas mensagens, verificava os telefonemas recebidos e perdidos.
Depois d e verificar o celular, a menina pegou na pulseira que ela tinha. Era daquelas pulseiras de metal que levam as iniciais dos namorados gravadas em letras douradas. Ela olhava para uma das iniciais com atenção, depois disfarçava e mexia a pulseira de um lado para o outro. Depois de um tempo, dava para perceber que ela também estava contendo o choro. Os olhos estavam vermelhos, e ela inutilmente disfarçava...

Dois lados do mesmo veiculo. A mesma reação para uma cena, causada por motivos diferentes.
A menina talvez não estivesse vivendo um bom momento, e tivesse passado por uma pontada de inveja ao ver o casal se despedindo.

Por que estou sendo pessimista? Talvez fosse o contrario. Talvez a menina estivesse feliz por estar indo encontrar o seu rapaz, e enquanto ela via um casal se separar, imaginava o casal que iria se unir em breve...

Mas a sutileza da cena me fascinou. E eu me perguntei porque fui capaz de percebe-la. Seria uma capacidade maior em perceber o meu redor? A necessidade de distrair meus pensamentos e minhas frustrações bservando a vida dos outros?

Ou seria apenas o fato de eu não desejar mais ninguém?

J2ML