Em destaque:

No portão:

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Todo fim tem que ter seu Carnaval:

Era o fim.
Mas isso era admitido fazia meses. Não havia a menor possibilidade de alterações, de voltar atrás, de recomeço. Havia acabado. E eu tinha certeza disso.
Só que algo ainda incomodava. Era como se eu tivesse chegado ao final do livro, terminado de ler e deixado a página, com a palavra 'Fim' em letras garrafais, aberta.

Algo faltava...

E eu fazia uma vaga ideia do que era, mas não conseguia explicar essa falta. Eu sentia que faltava algo pra encerrar de vez aquela estória. Só não entendia o que era...

Até que um momento de clareza me mostrou o que faltava. Foi no fim do Carnaval, um ótimo Carnaval, daqueles que você pede pra durar mais um dia. Daqueles que você não chega a se acabar, porque quer estar de pé no dia seguinte pra pular mais um pouco. Um Carnaval que você ainda vai lembrar e continuar falando dele por pelo menos mais uns cinco outros carnavais. Não com nostalgia, mas com aquele sorriso de boas lembranças no rosto...

Assim, entre pulos, cantigas, gente suada mas contente, que percebi o que faltava: a sensação de viver novamente. De poder continuar vivendo - pra melhor e pra pior - e passar por novas experiencias, ou por situações parecidas com a possibilidade de fazer diferente. De amar, se apaixonar novamente... De se reencontrar com si.

Diz-se que todo fim tem de se passar por um período de luto. Como nunca fui de seguir roteiro, pulei essa parte. Fiz do fim um Carnaval. E um recomeço sem expectativas, mas esperançoso.  


J2ML

domingo, 25 de setembro de 2016

Luar fora do céu:

Era plena luz do dia e eu estava admirando a lua. Era lua crescente - no hemisfério sul em que estava -, fina, quase perfeita. Uma lua daquelas que desviam o olhar do marujo sobre o mar à noite.
E desviava exatamente igual o meu olhar, em plena luz do dia.

Eu segui aquela lua por alguns instantes, fixamente, como um lobo deve fazer antes de uivar para ela.
E esse astro habitava um céu lindo, cor de pele, porém finito. Logo acima dessa lua havia uma imensidão de negros pelos longos, que de tempos em tempos - em fases como uma real lua - podia ocultar parcial ou completamente esse astro não tão celeste assim.

E eu, que por sorte tinha aquela lua a descoberto, estava admirando-a como muitos homens - desde poetas a desbravadores - já fizeram antes, desde tempos vindouros.
Mas esta era diferente: não era a mesma lua de todos os seres da Terra. Aquela lua era única, Singular. E não era fria e distante, quase intocável. Era quente. E estava a um metro de distância de mim. Podia ser tocada, cheirada, beijada.
  
Mas essa lua também era quase intocável.

E conforme eu caminhava, o corpo - celeste? - em que esse astro habitava ia se afastando, em direção oposta.


J2ML

domingo, 18 de setembro de 2016

Magazine:

Cheio de munição eu deslizo pelo mar dos desencontros.
Fugindo de cruzar com possíveis alvos-desafetos.
O paiol carregado. A arma principal pronta pra despejar fogo.
Mas é uma boca calada. Cano em silêncio. Metal frio.
Eu sigo preferindo não dar um pio no oceano dos meio termos.
Guardo comigo toda essa carga explosiva.
Mesmo correndo o risco de que ela exploda dentro de mim,
e me leve para o fundo desse mar do esquecimento.

J2ML

sábado, 3 de setembro de 2016

Nota:

Se alguém ainda entra aqui...


Só queria avisar que, a partir da semana seguinte, começo um novo trabalho que, por questões diversas, inviabilizará publicação de textos meus aqui.

Talvez eu volte em alguns anos (contrato é curto mas nem tanto).

Mas o Nino Srat continua. Ainda há alguns textos meus aqui, salvos no rascunho à espera de hora mais propicia de divulgação, que ele publicará. 

Abraços, boa sorte e gostaria de me despedir com um conselho:


Jamais temer.



J2ML

Eclipse:



São os movimentos
Sol e Lua
Ofuscados, atrapalhados
por outro astro entre eles.

Se é como se diz
Sol e Lua nunca
se erguerão juntos,
assim estamos nós.

O Eclipse agora
está no nosso eixo.
Escurece de nós
a vista um do outro.

Ora sou eu, ora
você na sombra
um do outro. Entre
a umbra e a penumbra.

Eclipses passam.
Eles nada mais são,
que resultado dos
movimentos nossos.

E a sombra que agora
cai sobre nós, umbra,
Escuridão, ela passará.
Para a luz voltaremos.


J2ML

Canção de quem por aqui passa:

Todo dia ela aqui vem,
só pra ver se novo tem.
Ela pensa que eu também
Faço o mesmo por ela?

Todo dia ela aqui passa,
e pensa se há novidade:
Será que é para ela,
será que é sobre mim?

Todo dia ela aqui está,
quer algo encontrar, ou
será para se encontrar?
Estará também perdida?

Todo dia ela se vai, e
sabe que amanhã volta.
(O amanhã volta)
Se quiser... aqui
qualquer um pode passar
Só eu que não passo,
dessa eu já fui.


J2ML

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

terça-feira, 5 de julho de 2016

Destruição Criativa:

Lembranças. Memórias. Perseguição diária.
Ainda.

É uma música na playlist, uma foto no celular, um café, um lugar...
Marcas de um tempo perdido que ficaram.
Ainda.

A perseguição diária de uma vida que não é mais.
Outra vida que continua. Que tem que ser vivida.
Precisa ser vivida. Merece ser bem vivida.
Ainda.

Nesse momento é bom tentar ser artista. Arte constrói. Arte é vida.
Arte também destrói. Também é morte.
Arte transforma. Torna aquilo que agora pesa em inspiração, ideia, opção.
E o artista, abençoado pela criatividade, destrói tudo.
Ainda.

Destrói lembrança. Destrói memória.
Vira som. Vira desenho. Vira quadro. Vira foto.
Vira prosa. Vira poesia. Vira conto. Vira texto.
Destrói a vida que não é mais. Destrói o que ficou do tempo perdido.
Destruição vira vida.
Ainda.

Um novo dia...
É outra música na playlist, novas fotos no celular, mais um café, outro lugar...
Novas lembranças. Nova memória.
Outra vida. Viva.
Ainda...



Nino Srat

terça-feira, 26 de abril de 2016

Relógio de Pulso do Impossível:

 Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
   Me devolva o tempo perdido. 
     Me devolva o tempo perdido. 
      Me devolva o tempo perdido. 
     Me devolva o tempo perdido. 
   Me devolva o tempo perdido. 
  Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o te    po perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o  te       perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo    erdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo p    dido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo pe     do. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdid          devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo devol                    va o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdid    Me de       a o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me dev       o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva     tempo perdido.
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o       po perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o te     o perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
  Me devolva o tempo perdido. 
    Me devolva o tempo perdido. 
  Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 
Me devolva o tempo perdido. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Amor de pica:

Dizem:
"Amor de pica quando bate, fica".
Pois não.
Amor de pica não fica.
Ele vem e vai,
entra e sai,
bate e volta,
sobe e desce,
molha, seca,
rala e rola,
vira,
desvira,
revira,
faz,
desfaz...
Mas ficar, não fica.



Nino Srat

sexta-feira, 25 de março de 2016

No portão:

https://www.instagram.com/p/BC5PqeFNPYDqE7-dsFtHZYzihNtGB-DidFz-CU0/

Todos os dias de manhã ela está ali: O focinho no portão, a cara atenta, os olhos mal piscam.
À minha espera pra me dar bom dia. Um bom dia à sua maneira: mordidinhas, lambidas, as patas - grandes por sinal - sujando minha roupa. Os olhos, castanhos, a me fitar com um brilho de euforia e ansiedade...
E ela passa o dia no portão, sentada e quieta, à minha espera pra brincar mais um pouquinho, pra ter mais um pouco de atenção. Atenta a qualquer sinal de movimentação, o rabo felpudo levemente balança. As orelhas, grandes e pontudas, em pé captando o menor sinal da minha presença. E se não for alarme falso, elas se abaixam à espera de uma mão para acaricia-las.
Ela passa o dia no portão, à minha espera. Como se não houvesse mais nada, nem ninguém, no mundo. Só eu. E eu invejo a simplicidade da sua alegria canina. E lembro que muitas vezes volto ansioso para casa, cansado, frustrado, só querendo ver aquele focinho no portão...


J2ML





segunda-feira, 21 de março de 2016

Escorpião:

Não fui surpreendido pelo seu veneno, pelo contrário: eu o esperava.
Fui calculista sim. Mas convenhamos, eu pus o meu na reta.
E você cumpriu com o não prometido. Afinal, era essa sua natureza, não?
Agradeço por não ter sido tão doloroso... talvez porque eu já esperasse seu ferrão nas minhas costas.
E enquanto afundo nesse caudaloso rio que tem sido a vida, me alivia uma certeza:
Seu destino será o mesmo.
- O Sapo.


Nino Srat
Da fábula: O Sapo e o Escorpião.



Covardia:

Covardia:
s.f. 
1. Comportamento que expressa falta de coragem; gesto caracterizado pelo medo ou temor; que não é ousado: pusilâmine.
2. Violência efetuada contra uma pessoa mais fraca.
(Etm. co(v/b)arde + ia)

----------------------


Uma decisão egoísta. Uma ação impulsiva. Mensagens de des-culpa que nada explicam. 

Fuga.
Pensamentos que aliviam a mente equilibram-se com palavras que pesam a ponta da língua,
Mas que não vão ao ar como sons.
Medo.
A sensação do erro cometido. O tempo não volta atrás. Ações podem consertar... mas o medo persiste. Hesitação. Desistência.
Remorso.
Então vem o desespero. Lança sobre os ombros a culpa. 
Dor.
E no auge dessa dor, se busca o modo mais simples de resolve-la: jogando ela no colo do outro... afinal, não seria o outro a causa, a razão do acontecido?
...
Receber o peso da culpa. Somá-lo ao seu. Não dizer uma palavra. Meras letras. Simples soma... 
Covardia.


J2ML




sexta-feira, 18 de março de 2016

'Nude' vazio:

Admito que sempre tive um certo interesse em me ver nu. No entanto não via a exposição como algo certo, direito. Também não achava errado, mas sim exposição excessiva da própria pessoa. E sim, considero excitante, de vários modos, embora nem de todo sexual.

A geração dos smartphones acabou por tornar a exposição do corpo algo comum. Um 'nude' se tornou quase normal. Quem nunca fez ou quis fazer um? Tá, tem quem jamais tenha pensado. Tem ate´ - pasmem - quem nem sequer soubesse o significado da expressão 'mandar nudes'. Mas eles são cada vez menos a regra e mais a exceção.

Eu custei a ter um smart phone. Custei a fazer um SnapChat - algo que parece ter sido criado pra mandar 'nudes' - e custo sempre a entrar na moda dos app que cerca o mundo hoje. Então sou um retardatário no assunto. Mas corri atrás. Fiz. Fui lá. Fiz meu perfil, meus 'nudes', troquei com outras pessoas.

Uau... nada de mais. Isso mesmo.

Mas há uma certa emoção, não na troca de imagens, mas na hora de fazer um 'nude' 'selfie'. Sim, há toda uma excitação quando faço meus 'nudes'. Buscar uma pose, ver a luz, o ambiente. O corpo: o que está bom nele, o que não está. O que mostrar e não mostrar. Há algo nele que me identifique (maldita hora de fazer tattoo)?

É tudo isso. E eu antes até achava isso estranho. E pensava pior praqueles que tinham a capacidade, a coragem de se expor e postar as próprias fotos na internet. Achava perigoso. Achava loucura...

Um dia, quando ensaiava meus primeiros 'nudes' em um local que, devido à luz, me deixara encantado de idéias, digamos, pervertidas, me decidi a enviar um dos 'nudes' que fiz a algum lugar da internet que publicasse 'nudes' em anonimo (não tenho ainda a coragem de 'botar a cara'). O Tumblr se bobear vive disso. Achei um nele e pronto! Está lá.

Vi a foto entrar no ar e tive uma estranha sensação de alivio. Estava ali, online, eu-nude, entre tantos outros-nudes, no site. Acompanhei a foto por uns dias, vi que ela até teve uma certa recepção no site (olha aí o hedonismo/narcisismo de nossa era me contagiando...rs). Mas com o passar do tempo me esqueci dela...

Tirei outros 'nudes' depois. Postei mais alguns pelo mesmo caminho... e me esqueci.

Mas você como funcionam as redes nesse ponto: estava outro dia sem fazer nada pelo tumblr quando de repente passo por uma foto, entre tantas outras, de 'nude'... e não a reconheci de primeira. Era minha. Meu 'nude'. Era eu ali. Eu-nude. E não me reconheci. Entre vários corpos de seres humanos reais, virtualmente transformados, estava o meu. E eu não o reconheci.

Me peguei pensando como um 'nude' pode ser ao mesmo tempo tão pessoal, tão selfie, tão comum, tão social, tão... indiferente. São corpos nus, que deviam trazer, de alguma forma e para alguma razão, excitação - seja pela arte, pela estética, pela sensualidade, pelo erótico, pelo grotesco até - mas que agora, naquela multidão de outros 'nudes' não era mais do que outra imagem ocupando Kbytes numa rede social...

Um 'nude' vazio.

J2ML  


PS: Não vai haver imagem ilustrativa, nem link para 'nudes' citados, por favor. Vou poupá-los disso.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Alteres:

A vida tem sido pesada
O tempo tá em falta
A saúde indo embora
E eu precisando fazer exercícios
O jeito é fazer da vida alteres
E malhar um pouco ela


J2ML

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

No contar dos segundos (ou PeaceMaker):

Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

Os segundos batem no seu tempo ritmado.
Tempo precioso que passa e não volta atrás.

...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...

E a vida não segue como previsto. Nada além de sobreviver.
Segundo por segundo...

...tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

São sonhos que demoram a virar realidade. Outros que se desfazem...
E pesadelos que se tornam reais a cada dia.
A realidade cobrando de você uma razão pra sua existência assim que toca o despertador.

...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...

A constante indagação daqueles mais próximos sobre o que será da sua vida
(E nem você sabe a resposta, mesmo se perguntando isso todo dia).
Perguntas, perguntas e mais perguntas...

...tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

Ou nos oferecem "soluções" mais práticas:
"Trabalha nisso, trabalha naquilo, concurso tal..."
"Pra quê continuar tentando seu sonho? Por quê sonhar? Pelo que sonhar?"
Enquanto a questão - o centro do problema - é ignorada:
O que faria você feliz?

...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...

E se por um lapso desses segundos a questão volta à mente... não pode. Não dá.
É egoísmo de sua parte. "Você só está pensando em si mesmo". "As coisas não são sempre como queremos." "O mundo não gira em torno do seu umbigo..."
Por que lutar pelo que se quer, afinal?
Eis o que quer dizer o egoísmo conformista dos outros, face ao seu.

...tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

Afinal, cede-se um pouco. Procura-se um emprego.
Estuda algo que não gosta... e esquece quando não for mais útil.
Eis a rotina que todos desejaram a você. A conformidade.
"Pra que sonhar com o que não se pode ser? Melhor nem tentar..."
São os outros, felizes e vitoriosos, pensando a nosso respeito
(Tenha pena deles. Eles muito provavelmente contaram os mesmos segundos...)

...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tactic-tac...

Contente-se com o emprego que paga as contas, ou que até sobra uma grana...
(se você não detestar esse trabalho então, se dê por sortudo)
Em estudar aquilo que lhe dá retorno financeiro, social...
Contente-se com o canto em que está. O lugar que ocupa. A cidade onde vive.
A sociedade que te rodeia e que violentamente te molda.

...tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

Contente-se em ser opaco nos relacionamentos. Transpareça aquilo que é conveniente.
Assim se pula de cama em cama com mais facilidade.
"Pra que uma pessoa só quando se pode experimentar outras?"
Contente-se com as relações que comodamente lhe envolvem (e em que você não evolve).
Com quem se contenta em estar com você agora, à espera de que você desista de si...
Com um prazer que dure apenas alguns míseros segundos...
   
...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...

E eles sorriem para você, felizes. Você é um deles agora. Mais um.
Enquanto eles sorriem, os segundos se marcam ao fundo, soando baixo, bem baixo...
...enganando-os com a ilusão de que é o relógio contando o tempo das vidas que passam;
que é o ritmo ditando a marcha marcial da sociedade em direção ao nada.

...tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic...

Mas a verdade, sabemos eu e você:
Esse tic-tac-tic que ao fundo se esconde,
(e que bem no fundo do nosso coração reverbera)
não vem dos ponteiros de um relógio...
...mas sim da contagem regressiva de um artefato,
prestes a liberar essa energia acumulada.

...tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...



Nino Srat



PS: Esse texto tem trilha sonora: Just Wait - The Reign of Kindo 



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Bloco fora de época:

A vibração dos metais e tambores mistura seu som com o da chuva que cai.
E a água fria que desce lava o suor quente que antes encharcava o corpo.

O som vibra o coração. Traz a alegria. Agita o corpo ainda folião.
A chuva, essa lava a alma pra vida que retorna à necessária rotina.

E eu só levanto o rosto molhado para o céu escuro, as gotas caindo nos olhos.
E torço apenas para que essa sensação se prolongue mais um segundo...

E o som vibra
E a chuva cai
E o povo vibra
E a chuva cai
E a cidade dorme
E a chuva cai
E a chuva cai



J2ML

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Bloco de Carnaval:


É calor. É suor. É samba. É dançar até se acabar.
Pular, brincar, cantar, e fazer tudo de novo.
É beber (água também), se alimentar de alegria,
Porque da vida ela é pouca. E vida, ela é breve.

É seguir o rumo: da folia, da música, de casa.
Não importa quem faz o caminho: se segue em frente.
Tem começo. Tem meio. Tem fim.
O importante é: aproveite o percurso.

Aproveitar com aqueles que estão no bloco.
Somos membros da mais santa irmandade: a folia.
Não importa se lá fora você não gosta de fulano.
Aqui se entende como todos são: seres humanos.

E se aceita todos aqueles que pulam junto.
O outro, o diferente. O pobre, o rico. Os gêneros.
Não tem nada mais nivelador que isso.
Até as desavenças ficam de lado,
nos dias de trégua da folia.

É paz. É amor. É alegria. É exagero às vezes.
E é ilusão. Pulamos todos sabendo disso.
As cinzas virão, trazendo de volta a realidade, a ressaca...
...e a certeza de que estamos vivos, bem vivos,
e de que sobrevivemos, felizes, a mais um carnaval.

Esquindô!

J2ML

PS: Eu sei que esse texto podia estar melhor, mas assim zoneado não fica um pouco mais carnavalesco?
























terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Novidade:

Chega o momento:
Os textos já não têm mais o mesmo sentido;
(alguns nem sequer têm algum sentido)
As músicas são trocadas na playlist;
Aquelas cores já desbotam e descascam;
Os sabores ficam insossos;
E os aromas se vão com o vento.
A graça se torna sobriedade;
E risos somem a la poker face.
A lembrança se resume em um breve suspiro.

É a vida que segue? 
Mas quem disse que ela parou?!

São novos textos; outros sentidos; 
Mais som, mais música;
Outras cores: claras, escuras, vivas.
Novos sabores: doces, amargos.
(agridoce não tem mais efeito) 
Outros aromas trazidos pelo vento.
O riso volta à face. A graça se renova.
E as memórias são repostas ao espirar.
Eis o momento.


J2ML