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domingo, 20 de setembro de 2015

A Cidade e a Solidão:




Eu odiava São Paulo.

Achava uma cidade fria, cinza, lotada e parada devido a seus engarrafamentos de distâncias quebradoras de recordes. Suja por seus moradores em seus muitos carros, seu metrô desconexo, cheio de ramais e conexões sem linhas retas ou circulares, como se houvessem veias em uma ameba. Sua população workahólica que tinha o rei na barriga, que achava que bancava o resto do país - como se não o sugasse ao mesmo tempo - e que deveria ser o condutor politico da nação: Non ducor, duco.

Aí visitei São Paulo pela primeira vez...

E minha visão sobre a cidade mudou. Foi a primeira vez em uma metrópole. Uma de verdade (Rio de Janeiro tem uma geografia que reduz essa sensação de espaço urbano tomado). O mar de prédios, que antes me assustava, me fascinou. O cinza foi substituído pela cor dos prédios, o verde das arvores - extremamente necessárias e em boa quantidade - e as imagens dos grafites em muitas de suas paredes. Suja era, mas bem menos do que eu achava. O metrô, esse sim era um metrô de verdade. Essencial para meus passeios. Ia em muitos lugares, e dava até gosto de me perder nele (o metrô de Sampa merece um text só pra ele. Ainda vou fazer isso). A população... bem, ainda era workaholica, em sua maioria. E ainda tinha parte daquelas crenças que citei no inicio, mas parecia mais aberta e simpática: as pessoas pelo menos se encaram... E é uma população vasta. Vários tipos, grupos, bandos, culturas. Dá pra apreciar a diversidade. Claro, sabendo onde se pisa, com quem se fala, ou não fala, etc.




São Paulo me cativou.





Não. Morar lá, jamais. Prefiro assim: apreciação à distância, em doses homeopáticas, algumas vezes por ano. E é assim que vou descobrindo, redescobrindo e apreciando a maior cidade do Brasil. A cada visita, uma novidade: A Paulista, artéria econômica e cultural (ou assim parece), viva de pessoas quase o dia todo, indo e vindo para tudo que é lado, em todo tipo de afazeres: estudantes, trabalhadores, modelos, empresários, artistas famosos, artistas de rua, mendigos, socialites, turistas. Em seguida a Augusta, rua dos prazeres, desde o permitido e necessário happy hour até os proibidos e moralmente duvidosos conforme se desce a rua. A Sé, parte do centro histórico que se estende até um pouco além do viaduto do chá. A Luz, com sua estação de trem memorial, hoje Museu da Língua Portuguesa - em que tive o prazer de levar meu pai, professor de português.

A cada visita uma nova sensação: no shopping na Faria Lima, onde entrei e pela primeira vez tive a sensação - horrível - de estar sendo medido de cima a baixo pelas pessoas: não era meu lugar e por isso era ainda mais legal estar ali. A feira de antiguidades embaixo do Masp (ou caixa de fósforo gigante, como chama um amigo meu), naquele imenso vão com uma vista boa para a cidade. O Trianom de manhã cedo, com as pessoas fazendo Cooper na área verde compactada em meio a prédios altos. Os casarões de São Paulo, de décadas passadas, ainda de pé, resistindo ao progresso.
O bairro japonês da Liberdade - ah, como adoro - onde sempre paro para almoçar alguma comida oriental. A USP, um tanto quanto isolada no meio da cidade. Congonhas, um aeroporto que assusta pela proximidade entre a pista de voo e a avenida...





E o povo... é muita gente pra definir. Tem de tudo. Tudo mesmo (especialmente se você frequenta a Augusta). Mas o que me intrigava era ter ouvido uma vez que o Paulistano é solitário. Em meio de 8 milhões (ou mais) de habitantes, dá pra se ser solitário? Se sentir sozinho? Como sempre estou de passagem, me é impossível responder. Mas vendo os habitantes da grande metrópole passando por mim imagino que eles tem uma necessidade em socializar. Posso estar errado. Imaginei isso no momento em que andava pela Augusta e via diversas pessoas interagindo no happy hour. É a luta contra a solidão? E se for, qual a diferença entre essas pessoas e as que habitam outras grandes cidades no Brasil? No mundo? Não estamos todos fugindo da solidão?

Talvez a imensidão da cidade de São Paulo aumente essa luta contra a solidão. Pode ser que dê a sensação de que estamos perdendo, sendo engolidos pelos arranha céus ou desaparecendo em túneis escuros de metrô. Toda essa conjectura é individual: cada um vive e suporta sua própria solidão. Me lembrei que, horas antes, via um artista de rua se manifestando através de um longo e desconexo texto escrito a giz no chão da Paulista. Era um desabafo sobre como a vida dele estava ruim e ninguém se importava. Prova disso é que o texto, que ocupava grande parte da calçada, era pisado por quase todos os transeuntes, que mal se ocupavam de baixar a cabeça e ler meia frase pra saber do que se tratava... Em contraste a essa cena, próximo dali, vários estudantes se reuniam na escadaria da Faculdade Casper Líbero, se divertindo enquanto aguardavam as aulas, ignorando a cidade. Ainda mais contrastante era ver, em muitas estações de metrô, casais namorando no fim das plataformas (adoro isso). 

Enquanto eu subia a rua Augusta e rememorava todas essas cenas ocorridas naquele dia, me peguei sentindo algo que não sentia já fazia um bom tempo. Tanto tempo que, quando a sensação surgiu, não entendi o que era... era um vazio, a impressão de que algo ali me faltava, de que precisava preencher um espaço. Era a solidão. Uma solidão que não lembrava ter sentido nos últimos 8, 9 anos. Não falo de uma companheira, mas sim de companhia. Alguém para estar ali e apreciar, quieto, comigo, naquela imensidão de pedra, andar por aquelas ruas, se perder naqueles túneis do metrô... É essa a solidão que se passa na grande cidade?

A sensação crescia e me tomava enquanto eu chegava ao fim da rua. Mas ao dobrar a esquina na Paulista, uma lufada de vento me bateu na face e levou a sensação embora. Eram ventos indicando a partida. Talvez eu já estivesse em São Paulo por tempo demais... 

Era hora de ir para casa.


J2ML





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