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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Jóia. Ou: A perfeição.



Sempre que ouço dizerem que fulana ou ciclana é perfeita, qualquer garota, você me volta à cabeça. E com justiça. Não vi menina mais perfeita ainda nessa terra. Não verei, não nesse sentido de perfeição...

Você era sim, perfeita. Desde a aparência física ao caráter. Se algum rapaz se prendia - e quantos admiradores você tinha, eu incluso - aos seus encantos visuais, era com razão. Metricamente desenhada, nas medidas exatas dos pés à cabeça. Um rosto angelical e calmo, espalhava tranquilidade, com olhos castanhos e cabelos cacheados que convidavam a enrola-los entre os dedos. Esportista, nada acomodada, praticante de esportes, fã de futebol (sem fanatismo), embora sempre aparentasse estar quieta no seu canto. 

Essa timidez era uma aparência enganadora: você era tranquila no falar, não evitando ninguém, tendo sempre algo pronto, fosse para rir, ajudar ou ensinar. Tinha, sim, uma incapacidade em decorar nomes - que eu infelizmente senti na pele - mas com a quantidade de admiradores que vinha tentar contato, como se lembrar? E era estudiosa. Sonhava com uma profissão que pudesse servir a outros: enfermagem, serviço social, medicina... pouco importava. Você queria fazer o bem.

Com isso você levava os admiradores à loucura, numa 'ola' de suspiros que fazia varrer o mal do mundo... doce ilusão. Era realmente bom o seu caráter, a sua vontade de se doar, cultivada em seu coração e mente desde cedo. A princípio sempre achávamos balela, mas a constância das suas declarações removia as dúvidas. 

Roqueira declarada, aparentemente para reduzir a fama de santinha, que servia na verdade para aumentar ainda mais o charme dela. Tocava piano, violão e... bateria. E cantava, com uma doce voz inesquecível. Era fã de bichinhos. Sempre estava ajudando alguém. Nunca estava exageradamente arrumada; às vezes, poucas, um pouco largada. Mas ainda com certo charme e jeito meigo.

Você era a perfeição no auge da adolescência. Era exatamente o que seu nome dizia: Jóia. Tão perfeita que parecia inatingível. E assim o foi. Ninguém alcançou seu lindo coração. E se alcançou, você não nos fez saber. Talvez por pena de magoar a nós, admiradores. E era uma perfeição tão grande, tão próxima da expectativa, que me fez me manter pelo tempo que te admirei a uma certa distância.

Até que um dia toda aquela admiração por você se manteve nisso: admiração. Em dado momento me desencantei com sua perfeição. Afinal, sendo tão perfeita como você era - e creio que ainda seja - eu de súbito não vi mais graça em te querer. No fim das contas, a imperfeição desperta mais interesse, mais paixão, mais graça, que toda aquela sua pureza.

Mesmo assim, não consegui desassociar perfeição à sua lembrança, que é hoje o que me resta. E aprendi a rejeitar a perfeição instintivamente, como se fosse uma aberração. A vida não é perfeita. Nunca será. E ter ao lado uma perfeição como você seria, no fim, uma grande - talvez a maior - maldição.


J2ML

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