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No portão:

sexta-feira, 25 de março de 2016

No portão:

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Todos os dias de manhã ela está ali: O focinho no portão, a cara atenta, os olhos mal piscam.
À minha espera pra me dar bom dia. Um bom dia à sua maneira: mordidinhas, lambidas, as patas - grandes por sinal - sujando minha roupa. Os olhos, castanhos, a me fitar com um brilho de euforia e ansiedade...
E ela passa o dia no portão, sentada e quieta, à minha espera pra brincar mais um pouquinho, pra ter mais um pouco de atenção. Atenta a qualquer sinal de movimentação, o rabo felpudo levemente balança. As orelhas, grandes e pontudas, em pé captando o menor sinal da minha presença. E se não for alarme falso, elas se abaixam à espera de uma mão para acaricia-las.
Ela passa o dia no portão, à minha espera. Como se não houvesse mais nada, nem ninguém, no mundo. Só eu. E eu invejo a simplicidade da sua alegria canina. E lembro que muitas vezes volto ansioso para casa, cansado, frustrado, só querendo ver aquele focinho no portão...


J2ML





segunda-feira, 21 de março de 2016

Escorpião:

Não fui surpreendido pelo seu veneno, pelo contrário: eu o esperava.
Fui calculista sim. Mas convenhamos, eu pus o meu na reta.
E você cumpriu com o não prometido. Afinal, era essa sua natureza, não?
Agradeço por não ter sido tão doloroso... talvez porque eu já esperasse seu ferrão nas minhas costas.
E enquanto afundo nesse caudaloso rio que tem sido a vida, me alivia uma certeza:
Seu destino será o mesmo.
- O Sapo.


Nino Srat
Da fábula: O Sapo e o Escorpião.



Covardia:

Covardia:
s.f. 
1. Comportamento que expressa falta de coragem; gesto caracterizado pelo medo ou temor; que não é ousado: pusilâmine.
2. Violência efetuada contra uma pessoa mais fraca.
(Etm. co(v/b)arde + ia)

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Uma decisão egoísta. Uma ação impulsiva. Mensagens de des-culpa que nada explicam. 

Fuga.
Pensamentos que aliviam a mente equilibram-se com palavras que pesam a ponta da língua,
Mas que não vão ao ar como sons.
Medo.
A sensação do erro cometido. O tempo não volta atrás. Ações podem consertar... mas o medo persiste. Hesitação. Desistência.
Remorso.
Então vem o desespero. Lança sobre os ombros a culpa. 
Dor.
E no auge dessa dor, se busca o modo mais simples de resolve-la: jogando ela no colo do outro... afinal, não seria o outro a causa, a razão do acontecido?
...
Receber o peso da culpa. Somá-lo ao seu. Não dizer uma palavra. Meras letras. Simples soma... 
Covardia.


J2ML




sexta-feira, 18 de março de 2016

'Nude' vazio:

Admito que sempre tive um certo interesse em me ver nu. No entanto não via a exposição como algo certo, direito. Também não achava errado, mas sim exposição excessiva da própria pessoa. E sim, considero excitante, de vários modos, embora nem de todo sexual.

A geração dos smartphones acabou por tornar a exposição do corpo algo comum. Um 'nude' se tornou quase normal. Quem nunca fez ou quis fazer um? Tá, tem quem jamais tenha pensado. Tem ate´ - pasmem - quem nem sequer soubesse o significado da expressão 'mandar nudes'. Mas eles são cada vez menos a regra e mais a exceção.

Eu custei a ter um smart phone. Custei a fazer um SnapChat - algo que parece ter sido criado pra mandar 'nudes' - e custo sempre a entrar na moda dos app que cerca o mundo hoje. Então sou um retardatário no assunto. Mas corri atrás. Fiz. Fui lá. Fiz meu perfil, meus 'nudes', troquei com outras pessoas.

Uau... nada de mais. Isso mesmo.

Mas há uma certa emoção, não na troca de imagens, mas na hora de fazer um 'nude' 'selfie'. Sim, há toda uma excitação quando faço meus 'nudes'. Buscar uma pose, ver a luz, o ambiente. O corpo: o que está bom nele, o que não está. O que mostrar e não mostrar. Há algo nele que me identifique (maldita hora de fazer tattoo)?

É tudo isso. E eu antes até achava isso estranho. E pensava pior praqueles que tinham a capacidade, a coragem de se expor e postar as próprias fotos na internet. Achava perigoso. Achava loucura...

Um dia, quando ensaiava meus primeiros 'nudes' em um local que, devido à luz, me deixara encantado de idéias, digamos, pervertidas, me decidi a enviar um dos 'nudes' que fiz a algum lugar da internet que publicasse 'nudes' em anonimo (não tenho ainda a coragem de 'botar a cara'). O Tumblr se bobear vive disso. Achei um nele e pronto! Está lá.

Vi a foto entrar no ar e tive uma estranha sensação de alivio. Estava ali, online, eu-nude, entre tantos outros-nudes, no site. Acompanhei a foto por uns dias, vi que ela até teve uma certa recepção no site (olha aí o hedonismo/narcisismo de nossa era me contagiando...rs). Mas com o passar do tempo me esqueci dela...

Tirei outros 'nudes' depois. Postei mais alguns pelo mesmo caminho... e me esqueci.

Mas você como funcionam as redes nesse ponto: estava outro dia sem fazer nada pelo tumblr quando de repente passo por uma foto, entre tantas outras, de 'nude'... e não a reconheci de primeira. Era minha. Meu 'nude'. Era eu ali. Eu-nude. E não me reconheci. Entre vários corpos de seres humanos reais, virtualmente transformados, estava o meu. E eu não o reconheci.

Me peguei pensando como um 'nude' pode ser ao mesmo tempo tão pessoal, tão selfie, tão comum, tão social, tão... indiferente. São corpos nus, que deviam trazer, de alguma forma e para alguma razão, excitação - seja pela arte, pela estética, pela sensualidade, pelo erótico, pelo grotesco até - mas que agora, naquela multidão de outros 'nudes' não era mais do que outra imagem ocupando Kbytes numa rede social...

Um 'nude' vazio.

J2ML  


PS: Não vai haver imagem ilustrativa, nem link para 'nudes' citados, por favor. Vou poupá-los disso.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Alteres:

A vida tem sido pesada
O tempo tá em falta
A saúde indo embora
E eu precisando fazer exercícios
O jeito é fazer da vida alteres
E malhar um pouco ela


J2ML