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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Geometria emocional:

Está tudo quieto. Palavras não mais se encontram. Elas saem a esmo, sem sentido e, quando muito, se enfrentam. Um estranho silêncio predomina. Ele é quase físico, matemático. É um mundo geométrico que se forma: duas linhas, dois cantos, dois pontos, na dúvida de se unirem em uma forma perfeita ou se desfazerem seguindo caminhos opostos. E pra isso, basta que o silêncio seja quebrado por um dos pontos. 

E a incerteza reina sobre essa triste geometria. Soberana cruel, que aprisiona esses dois pontos através do medo de o amanhã ser muito ruim, triste e severamente doloroso caso a distância entre eles se concretizar. O sentido convergente, agora, também é governado pela mesma rainha. E ela usa o mesmo medo, as mágoas, a falha de comunicação entre os pontos, para transformar a antes perfeita forma em duas linhas divergentes. 

Mas resta alguma esperança para esses dois pontos? Não sei... a esperança é como uma linha no horizonte: infinita, inconcebível, ... São muitas variáveis para se descobrir qual sentido elas seguirão, que forma tomarão... se convergirão ou divergirão de uma vez por todas.



J2ML


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Pelos:

Ela está no meu colo e a paisagem é bonita. O vento bate, e ela olhando para o nada... Mas tudo o que eu olho são os pelos dos seus bracinhos paralelos aos meus. Talvez pelo instinto intimo que toda garota tem em relação a sua aparência, ela sentiu que eu estava prestando atenção em algo nela, entendeu logo o que era e interrompeu meu devaneio. "Ai, para. Não gosto dos meus pelos." Minha atenção em mais um detalhe dela se estendeu e ganhou forma, já que eu tinha que responder alguma coisa. Mas foi uma resposta infantil... "Ah, pelinhos..." E a cara de moleque que acabou de ganhar um brinquedo desejado acompanhou meu comentário. Desarmou ela, pelo menos. Desviou o olhar do meu enquanto reclamava de se achar muito peluda, e foi se soltando dos meus braços (droga...). Foi se virando de lado, e me deixou à mostra todo o braço, até a vista das axilas... Juro. Nesses momentos eu desisto de buscar entender o que as mulheres querem quando comentam do próprio corpo. Ela acabou de reclamar dos pelos nos braços, mas se vira pra mim de modo a expor eles perfeitamente à minha visão. Só me resta aprecia-los. Mas ver é pouco, ainda mais sendo detalhes dessa menina. Logo estou ignorando suas reclamações e mexendo nos pelos de seu braço, passando meus dedos naqueles braços brancos, tentando sentir cada um pelinho preto, fino, que os reveste. Lembra veludo, com um cheiro doce do perfume que ela usa. E ela a reclamar enquanto meu interesse passa a ser um desejo: subo o braço na altura da minha boca e começo a passar meus lábios naqueles pelos. Só assim ela para de reclamar, mas olha reticente para mim, como se aceitasse a contragosto fazer parte daquela brincadeira. Eu não quero saber, e vou brincando até que ela se cansa - um minuto após - e retira o braço me afastando delicadamente. Ao abrir o braço, me mostra mais pelos: as axilas com uns poucos, minúsculos pelos, fugidos da colheita da gilete... E eu encontro um estranho interesse em buscar mais dos pelos dela. Não consigo segurar isso na minha mente, e acabo soltando meu interesse no ouvido dela. A reação: a de sempre. Ela primeiro faz uma cara de assustada, pensando no ser estranho com quem ela tem saído. Depois se acalma, talvez por lembrar que a maior parte do meu lado estranho de algum modo a fascina (ou sou eu que sonho, e torço, pra que ela pense nisso...). E pra tentar evitar que eu continue, ela me agarra. Se aninha em mim novamente. Enfia a cabeça no meu peito na esperança de que eu esqueça os pelinhos dela... e eu me aquieto também. Ela pensa que eu sosseguei. Ledo engano: estou só quieto contemplando os pelos dela que descem harmonizadamente pela nuca até o pescoço, apreciando cada detalhe daquele pequeno ser... 


J2ML