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quinta-feira, 19 de março de 2009

Casais (2):

Queria falar sobre um casal que vi anteontem...

Casal, não. Na verdade, eram 3 pessoas.

Um homem, uma mulher e uma criança.

Aliás, desconsiderem...vou falar só da mulher.

Era negra. Uma daquelas negas bem bonitas, que só se encontra aqui no Rio.
De corpo forte, usava uma roupa bem leve pra compensar o calor que fez esses ultimos dias.
E um grande barrigão de grávida.
Uma barriga imensa. Devia ter cerca de uns 8 meses pelo tamanho.
E a barriga ficava toda de fora da roupa. Chamava uma atenção absurda aquela mulher.
E ficava bem ser negra daquele jeito. Fosse de cor clara, ela não iria chamar a atenção que chamou. Ou não ficaria tão bonita expondo a barriga daquele jeito.

E o homem, do lado dela, era só papel coadjuvante.
Nem isso. Coadjuvante era o bebê na barriga. Ele fazia figuração, isso sim.
Só falava uma coisa com ela, vez ou outra, e botava a mão na barriga dela. Mais nada.

Ela quase o ignorava de tão ocupada que estava em desfilar sua barriga.

E ela agia com pose.Aquela mulher mostrava que estava absurdamente orgulhosa da barriga que levava. Ela olhava pros outros encarando, empinando o rosto e a barriga. Fazia questão de mostrar e apontar aquele corpanzil que ela passou a ser para todos que olhassem na sua direção.

Eu admirava a cena um pouco proximo. E ela percebeu.
Mas nem se importou. Ela na verdade devia querer isso. Que a admirassem em sua situação atual.
Ela devia querer muito aquela criança...

Essa cena não durou muito. O metrô chegou, e lá foi ela com aquele barrigão, e o figurante do homem logo atrás.

Como deve ser a sensação materna?
Fiquei com essa inveja na minha mente...

J2ML

Libertando...(1)

Eu entrei numa fase de me livrar de várias coisas que me travavam.
Essa fase não acabou. Tá.

Mas ela já começou faz quase 2 anos. E eu lembro bem.
Lembro porque foi quando eu comecei me livrando de uma coisa que me torturava, me atormentava fazia muito tempo, e eu nem havia percebido.

O tempo. O tempo me controlava.

Nem sei quando começou isto. Ele, o tempo, foi se apossando de mim aos poucos. Era tempo pra fazer uma coisa, tempo pra ir em algum lugar, tempo pra começar e terminar tudo o que eu fazia.

E era tudo organizadinho, tudo certinho. Eu vivia consultando o relógio, capataz do tempo, que me controlava através do seu posto, no meu pulso (celular pra mim nunca serviu pra consultar as horas...), e me dizia quando o tempo de uma coisa havia terminado e outra coisa deveria começar.

Mas aí você pode dizer que isso é ser disciplinado, organizado. Nada. É o contrario. Gente perdida é que tem que consultar as horas o tempo todo.

Sim. Eu andava perdido, naquela epoca. Confesso que em alguns pontos eu ainda não me encontrei (e na verdade duvido que irei me encontrar totalmente...). Mas o tempo é quem me fazia continuar perdido. O fato de estar constantemente preocupado com o tempo me fazia ficar distraido com o que o tempo não me mostrava:

A vida passa, mas não avisa que está passando...

Ela só avisa quando já passou.

Eu custei a perceber isso. E quando percebi, custei a perceber a causa do problema. Custei a parar de contar o tempo das coisas.

Eu lembro que um dia eu estava andando na rua sem nada pra fazer, e olhei as horas, no relogio.
Naquele dia - só pra perceber como eu estava acorrentado ao tempo - eu levava o relogio no bolso. A pulseira havia quebrado, mas pra continuar escravizado, eu levava meu capataz no bolso... Eu queria urgentemente saber as horas naquele dia, naquele momento. Pra quê?

Pra nada. Não tinha mais nada pra fazer. Só queria saber as horas porque queria saber o que o tempo teria pra me mostrar. Como ele me controlava, eu não via nada ao meu redor além dos seus segundos, minutos, horas...

Mas naquele momento, eu não conseguia encontrar o relogio... o bolso da calsa era longo, e tava tão cheio de bagulhos (gosto de ter as coisas no bolso, pra pegar rapidamente) que foi dificil encontrar o relogio.

Só que eu senti uma luz imensa, forte, amarela, invadir o espaço onde eu estava...

Era o Sol. Grande, quente, avisando que ia se por.
Foi o primeiro por-do-sol que eu pqrei para apreciar em muitos anos...
Naquele momento eu me toquei que não precisava mais do tempo. Era só apreciar mais o que havia em redor, o que eu tinha que fazer ou o que eu gostava que eu teria a noção do tempo...

E eu apreciei aquele por do sol, então.

Aí encontrei o relogio. Mas já não precisava saber as horas. Eu já sabia quais eram.

O relogio parou no lixo.

Começou minha fase de libertação.

J2ML

P.S.: Viva la revolucion!
Trilha Sonora? Hummm... Break Down Again - Tears for Fears.