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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Detalhes e Aparências no centro dessa grande cidade:

A vantagem de trabalhar pelo centro é a diversidade humana. Tem gente de tudo quanto é tipo social, cultural, econômico. É o centro vital da cidade, obviamente, onde tudo se negocia, se vende, se compra, se acerta, começa e termina. E essa diversidade fica bem visível na aparência das pessoas que cruzam o centro diariamente.

Engraçado é analisar o ditado de que 'as aparências enganam' enquanto você está assistindo essa diversidade pelas calçadas e cruzamentos do centro. As aparências com certeza enganam, e fácil, se você não se prender a detalhes pequenos que passam despercebidos à maioria das pessoas. Esses detalhes muitas vezes revelam mais da pessoa do que tudo o mais que ela estiver vestindo e/ou usando.

Por exemplo, a menina no perfeito estilo patricinha, com aquele vestido de marca, tamanho normal, maquiagem muito bem feita, sem exagero, que trabalha nas lojas de roupa de marca próximas à Av. Rio Branco. Essa é a primeira leitura que você faz, até que a vê trabalhar no caixa e percebe, no lado interno do seu pulso, uma tatuagem discreta do elmo do Darth Vader.

Ou o cara vestido como um grunge: barba mal feita, tênis, calça jeans e uma camisa social quadriculada, meio velha, se dirigindo à estação das barcas. Seguindo-o mais um tempo você talvez perceba um CD de sambas tradicionais e uma pasta cheia de trabalhos de alunos da Universidade pública do outro lado da baía.

Um motorista educado e comportado no ponto final de ônibus do Castelo não atrairia a atenção de ninguém à primeira vista, talvez. Mas olhando mais de perto, sua mão direita poderia assustar devido ao tamanho desproporcional de suas unhas. Um lobisomem urbano, talvez? Não. Apenas um motorista de ônibus que toca violão como musicista amador nas horas vagas.

Esse é meu favorito: Uma loira alta, bela, de óculos, perfeitamente arrumada em seu terno, saindo do tribunal de justiça. Uma compenetrada advogada, com sua pasta de processos a tiracolo. Basta entretanto um segundo a mais olhando-a para ver sair, de sua linda e grande boca retocada com batom vermelho, uma singela e relaxante bola feita de chiclete.

Esse foi dessa semana: a garota arrumadinha, cheirosa, arrumada e bem comportada, à espera de seu amor num bar próximo à Av. Presidente Vargas. Despertando olhares cobiçosos dos homens ao redor. Então, seu amor vem para protege-la desse bando de hienas de camisa social e calça. Onde está o detalhe? A menina saiu do bar feliz, de mãos dadas com sua namorada. Enquanto isso eu me ria observando as reações dos homens que antes a desejavam... até perceber que algumas não eram muito engraçadas. Pelo contrário... isso é melhor eu nem detalhar.

Enfim... esse é um texto que, se deixar, jamais vou completar. Em uma cidade de mais de dois milhões de habitantes (imagina se fosse São Paulo, então?), basta passar pelo centro algumas vezes na semana para ter mais uma pessoa detalhada (claro que meu voyeurismo ajuda...). É a diversidade de uma imensa cidade, cheia de vida apesar do calor, da inflação, da crise e tudo o mais. Para apreciar detalhes, só é necessário se despir dos pré conceitos e perceber o outro ao seu redor como diferente ao mesmo tempo que igual.

Quem dera isso fosse costume, ou minha mania tivesse mais adeptos. O que me incomoda é que a diversidade parece ser proporcional à discriminação, ao preconceito, aos julgamentos precipitados baseados na aparência sem detalhes.



Nino Srat


PS: Acho que voltarei a esse texto mais vezes. Sempre haverão detalhes a mais para relatar...

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