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domingo, 5 de dezembro de 2010

Quanto vale Jerusalém?

Numa das passagens do filme Cruzada, do diretor Ridley Scott, o cavaleiro cristão Balian de Ibelin faz uma pergunta complicada ao sultão Saladino. "Quanto vale Jerusalém?", questiona o cruzado. A primeira e surpreendente resposta de Saladino é "nada". Mas logo depois ele se volta para seu inimigo cristão, dá um meio sorriso e completa: "Tudo!"

Gosto dessa passagem por causa do contraste das duas respostas de Saladino. Ela serviria para várias situações da minha vida. Várias vezes estive em busca de objetivos, sonhos, que por um lado valiam tudo para mim, mas que vendo por outro lado, também não valiam nada.

Quanto vale um sonho, um objetivo? Tudo.

O "tudo" sempre foi mais evidente quando eu ainda estava em busca desses objetivos. E o "tudo" também é extremamente pesado enquanto não o atingimos. E a dor, o cansaço, a ansiedade - essa então, meu maior problema - que ele nos causa, me fez algumas vezes beirar o desespero. E nesse desespero, algumas tristes vezes, senti o "tudo" em seu maior efeito: na frustração do fracasso.

Quanto vale um sonho, um objetivo? Nada.

O "nada" é timido. É por boa parte do tempo imperceptivel à minha capacidade de avaliação. O pior é que ele quer chamar atenção, mas às vezes não consegue. Várias vezes ele está ali, na minha frente, querendo mostrar alguma coisa, mas eu me recuso a percebe-lo, de tão concentrado que estou em minha busca. E quando que eu vou enfim percebe-lo? Incrivelmente quando alcanço a vitória, que ironia... Eu ali, cansado mas entusiasmado ainda com aquela vitoria, percebo ele, o "nada", ali me dizendo que eu exagerei; meu esforço havia sido excessivo, se não inutil, e aquele sonho, aquele objetivo, não passava de uma misera migalha, ou mesmo de uma ilusão...

Ambos os casos são frustrantes, em maior e menor grau. Estive sempre criando objetivos, tendo sonhos meus, que me servissem de guia para a minha vida. Sempre conduzi as minhas buscas à minha maneira. Sempre carreguei a ansiedade de desejar em demasia determinados sonhos. E foram sempre situações em que o "tudo" e o "nada" foram o mesmo lado de uma mesma moeda. Vendo a resposta de Saladino, eu sinto que sempre me senti na mesma situação que ele. Mas seria esta a resposta?

Quanto vale um sonho, um objetivo?

Aí vem o diferencial.
O mais interessante na minha vida foram as vezes em que eu não busquei meus sonhos, meus objetivos...E eles me foram dados. Um dia normal, e eu passando, e de repente me aparece uma oportunidade. Pronto.
Fácil? Até parece...Quando a esmola é muita, a gente sempre desconfia, não? Além do mais, naquele momento eu não queria. Aquele curso, aquele tema de projeto, aquele estagio, aquele trabalho... Mas eu achava que aquele objetivo, dado de repente, não devia ser prioridade.
Mas não era eu que estava buscando. Era Deus que estava impondo. Sim, impondo. Porque temos as vezes a incrivel capacidade de desdenhar, de não reconhecer o que Deus põe para nossas vidas, de subestimar a Ele e a nós mesmos nessas situações, ao mesmo tempo em que superestimamos as coisas que deveriamos avaliar de maneira mais realista.

E daí me surgiram duas respostas.

Quanto vale um sonho, um objetivo? Algo.
Isso mesmo. Algo.
O "Tudo", que é Deus, nos dá "algo" em nossas vidas, porque assim prometeu que faria, e faz. Esse algo as vezes não se define claramente a nós a principio. Mas conforme andamos em Seus caminhos, percebemos o quanto este algo se torna importante devido ao fato de ter sido dado por Deus, e por isso passar a ser mais que uma benção: ele recebe o valor da responsabilidade que temos em honrar o sonho, o objetivo que Ele resolveu nos dar. E justamente por sabermos que é Ele que está nos dando que não superestimamos o valor do objeto, nem ficamos ansiosos enquanto os buscamos e nem frustrados com os resultados.

E quanto vale, afinal, um sonho, um objetivo? Ainda, nada.

Por que nada? Porque é nossa realidade neste mundo: Daqui, nada se leva para o outro. Os nossos sonhos, nossos objetivos que são dados neste mundo pertencem a este mundo, onde a traça rói, a ferrugem corrói e o corpo volta ao pó.
Deles só podemos tirar a breve sensação de satisfação que eles nos dão, que deve servir para nos lembrar que alguém que é "Tudo" se importa conosco e cuida de nós.

E estes sonhos, estes objetivos, também nos servem para nos testar, nos treinar e preparar para aquele outro país, onde teremos, enfim, a satisfação eterna.
Pois enquanto aqui nós somos o "nada", lá estaremos enfim com aquele que simplesmente "É"...

J2ML




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PS: Tive mestres nesta terra, assim como ainda os tenho e ainda terei outros, e do mesmo modo, meus mestres tiveram seus mestres. Se o estilo, o texto e algumas passagens lembrarem ao leitor de algum outro autor, acredite: não foi mera coincidencia. Afinal, a fé vem pelo ouvir, o que não exclui ler o que foi feito antes de mim. Citar todos eles seria um trabalho longo que eu não quero ter aqui, mas aceito de bom grado caso alguém pergunte.

PPS: Um filósofo chamado Locke faz poucos seculos atras definiu que o que atribui valor a determinado objeto é o trabalho relacionado a ele. Isso na verdade já havia sido definido em uma parabola faz 2 milenios atras, mais ou menos, que contava a respeito de empregados que receberam de seu patrão determinadas quantias em dinheiro e tinham como obrigação fazer com que tal dinheiro rendesse...Isso foi uma sacada que tive em meio ao texto. Discorde se quiser.

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