
Aula de Biologia: "Corpo Humano, Anatomia, ossos, coluna vertebral, pescoço: Composto das primeiras vértebras da coluna, a começar pela Atlas. Pelo pescoço também passam ar, comida, água, sangue, terminações nervosas, nossa voz. O pescoço é a ligação entre a cabeça e o resto do corpo, sendo ao mesmo tempo muito resistente em sua conposição óssea e frágil pela sua importancia vital no organismo..."
O professor segue explicando o funcionamento do pescoço, mas o aluno não quer saber de nada disto...A essa hora da manhã, o aluno não se interessa por pescoço, anatomia, nada de nada...
Subitamente, o pescoço desperta nele interesse. Não o pescoço da aula de biologia, da explicação do professor... O pescoço de uma colega sua passa a ser o tema de sua aula, objeto de estudo sentado logo à sua frente.
Eis o momento em que surgiu o interesse pelo estudo: A mesma colega, sentada ereta, o cabelo solto, era uma visão diária para ele. O cabelo dela, longo e liso, sempre cobria o pescoço... até que, naquela aula, ela resolve relaxar, inclinando o corpo para o lado, recostando-o na carteira e lançando seu cabelo todo para um dos lados. Parte do pescoço se revelara para o até então sonolento aluno. Um pescoço real, quente, de verdade...longe de comparação com o pescoço exposto pelo professor.
Só o movimento da colega o atraíra, a princípio... Mas uma corrente elétrica de repente se espalhou pelo seu corpo. Seu interesse em estudar aquele pescoço cruzava agora o campo da razão e passava também para o da emoção...
Ele estudava então com interesse o pescoço da colega. O objeto de seu estudo se revelava apenas em uma parte, o resto dele escondido atrás de uma cortina de um longo cabelo liso. Mas aquela parte já lhe era suficiente por enquanto, e ele aproveitava cada pedacinho, registrando e avaliando, analisando em sua mente cada milimetro de pele, de particularidade nele: sinais, a marca que o cordão deixava na pele, o modo como aquela pele reagia enquanto sua colega passava os dedos levemente sobre o pescoço...tudo era observado e estudado por ele.
Subitamente, o objeto se revelou por inteiro: a colega o assustou, se ajeitando na carteira num instante e, num passe de mágica que só as mulheres sabem dar a esse movimento, lançando o cabelo para um lado, para o outro, para o alto, enrolando-o e prendendo-o num rabo de cavalo, liberando para a vista e estudo de seu colega de trás todo o seu pescoço, além do cheiro perfumado que seus cabelos deixaram no ar.
O estudo desandou para aquele aluno. Ver objeto que o fascinava agora por inteiro, corrompeu todo seu interesse anterior... Pior, aguçou-o mais ainda: para ele agora não bastava só estuda-lo com os olhos apenas, mas com todos os seus outros sentidos: ele queria respirar o cheiro daquele pescoço, queria sentir o calor que por ele passava, queria tocar a textura daquela pele, sentir seu sabor... chegou mesmo a querer segurar sua colega pelo pescoço, como se prestes a esganá-la, apenas para ter em suas mãos todo aquele objeto que tanto o fascinara.
Perdido em seus delírios, o aluno perdeu a noção de suas ações: lentamente esticou um dos braços e levemente roçou a ponta de um de seus dedos no lado do pescoço de sua colega. Por breves milisegundos ele sentiu como se estivesse tocando a grade dos portões de um paraíso proibido...
A reação de sua colega foi quase instantânea: ela se assustou ao sentir a invasão de uma área privada e intima: seu corpo. Virou-se, com uma cara de quem tentava descobrir o que poderia estar acontecendo. Deu de cara com um colega de classe que ela mal falava, mas que via todos os dias de manhã.
Ele a olhava perplexo, com um olhar de quem descobria alguma coisa tão grande e absurda que sequer parecia entender o que estava fazendo...
Ela o olhou a principio com a cara de alguém que vai ter a pior das reações, que foi surpreendido por um inimigo emboscado mas está de prontidão para responder...
A sala nem reparou a situação: naquela hora da manhã, alguns alunos até dormiam. O professor continuava a explicar a anatomia do corpo humano, sem prestar atenção nas mínimas reações de seus alunos, ainda sonolentos demais para se rebelarem face a uma aula tão chata e parada. Nenhum deles percebia que em duas daquelas carteiras uma crise se iniciara... uma guerra de proporções arrasadoras poderia estar prestes a estourar e afetar o equilibrio apatico daquela sala... e o maximo que se ouvia ali era um bocejo.
Os dois olhares se encontraram por um segundo: nesse segundo, sabe-se lá quais conversações, quais propostas, quais acordos foram feitos. O resultado da discussão dos olhares foi a volta do status quo anterior à invasão do aluno. Paz.
A aluna, ainda mostrando a face intimidante, se virou para a frente novamente, cobrindo o pescoço com a cortina do seu cabelo longo e liso novamente. Seu ultimo movimento foi voltar os olhos para si mesma e dar um breve e pequeno sorriso, antes de voltar a fingir atenção no professor.
O aluno buscou se recuperar do susto. Olhou para os lados: ninguém reparou no que aconteceu ali. Olhou para a frente: o pescoço ficara encoberto; o estudo terminou para ele. Mas aí o cabelo, a cabeça, os ombros, os braços esticados, as mãos na carteira, toda a colega, passaram a ser um novo e fascinante objeto de estudo para ele...
J2ML
depois de muito tempo, um conto.
ResponderExcluirSaco de blog que tira os paragrafos da margem.
Ela com certeza ficou arrepiada nakele momento... rsrsrs
ResponderExcluirCool.. ;)
cara.. isso foi estranho! hahahah ahahaha haha
ResponderExcluirmas levarei em conta nas minhas futuras observações a questão do pescoço :D
marco
bom bom...
ResponderExcluirpodemos voltar a postar contos?
podemos baixar o nível?
Sensacional. Muito bom. =D
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